Roberto
Simões - presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas
Gerais (Sistema Faemg)
Com a
população mundial se aproximando rapidamente dos nove bilhões de habitantes e
considerando que a alimentação é uma necessidade vital, uma questão que não
preocupa o agronegócio é a demanda, ou seja, a existência de mercado para seus
produtos. Ademais, apesar do governo, o setor protagonizou nos últimos anos,
por méritos próprios, um notável processo de incorporação de tecnologia e de
elevação da produtividade, o que lhe assegura competitividade nos grandes
mercados mundiais. Enfim, da porteira para dentro, o agronegócio brasileiro vai
muito bem – é eficiente e capaz de superar até mesmo a concorrência subsidiada
nos Estados Unidos e na Europa.
Da porteira
de suas propriedades para fora, quando passa a depender de ações do governo, o
produtor se torna vítima do descaso, da omissão oficial e também de políticas
públicas equivocadas. Os exemplos são muitos: o sucateamento da infraestrutura
de transportes e de armazenagem da safra; a política de comércio exterior
consubstanciada na opção por países e blocos que pouco acrescentam ao Brasil ao
mesmo tempo em que subestima e ignora o Acordo do Pacífico Sul, onde estão as
grandes e reais oportunidades, inclusive com a China; a falta de crédito; a
fragilidade do sistema de seguro rural; a inexistência de um
sistema eficaz de assistência e extensão rural e, no âmbito do estado, uma
legislação ambiental que afugenta potenciais investidores.
Na
logística, o produtor está sufocado por custos que chegam a ser quatro vezes
maiores que em países vizinhos, como a Argentina, e nos Estados Unidos, por
exemplo. Estatísticas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA
– mostram que, na média, o produtor brasileiro de soja perde US$ 92 / tonelada
no levar até os portos. Indicando que a precariedade aumenta a cada ano, este
prejuízo cresceu 228% na última década, quando era de US$ 28 por tonelada. É a
consequência da falta de um sistema de logística à altura da capacidade de
produção do agronegócio brasileiro. Por carência de hidrovias, ferrovias e
portos, produtores do Centro-Oeste, Nordeste e Norte do país– regiões onde
existe um excedente de 64 milhões de toneladas para exportação – são obrigados
a levar suas safras para portos do Sul e do Sudeste, com perdas vultosas.
Agravando este cenário, a insuficiência do sistema de armazenamento faz com que
montanhas de toneladas de grãos – soja e milho, principalmente – fiquem ao
relento, com grandes prejuízos.
Nesta virada
do ano, com as projeções indicando que a economia brasileira fechará o ano com
um crescimento negativo muito perto dos 4% e inflação acima de 10%, é hora de o
governo entender que o agronegócio é um patrimônio nacional e que é sua
responsabilidade investir para preservá-lo considerando sua efetiva
contribuição à economia do país. O agronegócio é o setor que exige menos
investimentos e mais rapidamente responde a estímulos – lança-se a semente na
terra e em quatro ou cinco meses ela se transforma em divisas para o país, além
de proporcionar empregos, desenvolvimento regional, segurança alimentar da
população, com sustentabilidade ambiental.
O
agronegócio também representa a cadeia produtiva que mais impactos favoráveis
traz à economia – “para a frente e para trás”, como gostam de dizer os
economistas. Para trás, movimenta a indústria de insumos, adubo, implementos,
fertilizantes, defensivos e corretivos de solo. Para a frente, impulsiona os
segmentos industriais de processamento e beneficiamento da produção rural –
sucos, carnes, laticínios, celulose e incontáveis outros. Trabalhemos,
portanto, para assegurar ao setor – vital para gerar riqueza para o país e
empregos para os brasileiros – infraestrutura de qualidade, uma eficiente
política de comércio exterior, defesa sanitária e, em síntese, segurança para
plantar, colher e gerar desenvolvimento.