O Estado de São Paulo
O engenheiro agrônomo Pierre Vilela,
do INAES, entidade ligada à Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de
Minas Gerais, avalia que a seca que assola o Estado há três anos, especialmente
nas regiões norte e noroeste, está tendo o lado positivo de despertar a
consciência do setor agrícola para a questão da conservação dos recursos
naturais. “O solo, a água e o sol são partes intrínsecas do processo da
agricultura”, observa. “Mesmo na região do cerrado, onde existem dois períodos
de chuva por ano, não se via essa realidade de seca. Isso aflorou a consciência
das pessoas para seu capital natural.”
Ele conta que nos vales dos Rios
Urucuia e Paracatu a demanda de água é maior que a oferta, o que tem causado
conflitos. O Urucuia era o rio preferido de Guimarães Rosa. “O noroeste tem
condições para duas safras por ano, mas você vê que muitos pivôs estão parados
por falta de água, não têm uma segunda safra.” O cenário atual não condiz com o
status que Guimarães Rosa deu ao Urucuia. “Rio meu de amor é o Urucuia”,
relatou Riobaldo.
Vilela observa que um terço do
território mineiro é de vegetação natural e dois terços são ocupados por
agricultura, cidades, estradas, pecuária e mineração. Ele afirma que a área de
lavoura não tem problemas de irrigação ou degradação. O problema está nas
pastagens, que além de degradadas têm baixíssimo nível de ocupação, pois não
conseguem mais abrigar o gado. “Um estudo sobre as pastagens de Minas mostra
uma realidade dramática: o rebanho no Estado caiu 50% por causa da seca e problemas
no pasto. Temos cerca de 25 milhões de hectares de pasto: 75% se encontram em
estado de degradação avançado.”
Vilela destaca que o chamado “grande
produtor” em Minas tem em média mil hectares de terra. No Centro-Oeste, o
“médio produtor” tem cerca de 5 mil hectares. Segundo ele, desde a extinção da
Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural), voltada
aos médios produtores, há um vazio e parte considerável do setor em Minas ficou
no “limbo”. “Não incorporou tecnologia e inovação. O capital se esgotou e ficou
mais rentável arrendar o terreno para a soja e a cana ou vender. Até o capital
natural foi perdido.”
Uma mudança de consciência do setor
ficou evidenciada, segundo ele, com a elevada adesão dos produtores mineiros ao
Cadastro Ambiental Rural, um sistema criado pelo governo para auxiliar na
regularização ambiental de propriedades e posses. O setor passa por um processo
para se adequar à legislação, especialmente na recuperação de matas ciliares,
ocupadas por “negligência” do governo ou “autorização” de um tempo em que a
legislação era apenas “peça de papel”. “Todos estão interessados em rever seus
conceitos em relação à conservação de seu capital natural”, diz. “Temos
desenvolvido vários projetos para que a informação chegue ao produtor. Eles
querem conservar, mas é preciso saber como. Às vezes não é necessário grande
investimento em recuperação de áreas, mas de tecnologia.”
Fonte Original: FAEMG